terça-feira, 8 de dezembro de 2015

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A PORTA - FINAL

Esta é a continuação da história "A Porta", se você ainda não viu, aqui está a Parte I.

Onde supostamente deveria estar o chão segundo a minha percepção de espaço —, meus pés não encontraram nada. Eu me desequilibrei e cai no meio da escuridão. A queda durara longos segundos, mas o choque do meu corpo contra o chão parecera que eu havia caído de apenas alguns centímetros de altura. Fiquei em pé e olhei ao redor. Agora além da completa escuridão, também havia uma pressão no meu ouvido que me deixara sem ouvir nada.
Corey? Eu tentei falar. Minha boca abriu, porém eu não consegui ouvir nada. Meu ouvido estava zunindo. Tentei falar novamente, mas apesar de eu sentir minhas cordas vocais tremer, eu não ouvia nada. Até que finalmente pude sentir a pressão se esvaindo, e o zunido sumindo. Dando espaço para uma das mais estranhas experiências que o ser humano pode passar. O silêncio absoluto.
Um barulho alto pode causar um desconforto enorme e também dores nos ouvidos, mas o silêncio absoluto, além do desconforto, também mexe com o psicológico. Eu fiquei ali imóvel sem ver, ou escutar nada durante alguns segundos. Foi então que meus ouvidos finalmente se adaptaram ao ambiente e eu consegui ouvir pequenos ruídos. A primeiro instante eram apenas pequenos barulhos aleatórios, mas em uma fração de segundo eu consegui distinguir cada um deles. Eram os barulhos dos meus órgãos. Eu podia ouvir meu coração bater num ritmo acelerado, meu pulmão inflar e se esvaziar, pude ouvir ruídos que meu estômago fazia vez ou outra, e ouvi até mesmo o pulsar do sangue em minhas veias. Cada movimento que eu fazia eu podia ouvir o barulho que os ossos, tendões e músculos fazem quando se mexem. Era um silêncio ensurdecedor. A cada segundo que passava eu podia ouvir cada vez mais nitidamente os sons que ecoavam dentro de mim.
Eu tentei falar, mas minha voz era absorvida no mesmo instante que ela se propagava. Era como se meu pensamento e minha voz fossem a mesma coisa agora. Passaram-se alguns minutos e eu já não sabia o que fazer. Estava começando a alucinar, meu corpo se transformara numa fábrica barulhenta. O barulho do coração batendo agora parecia marretadas violentas dadas numa parede, o meu pulmão inflando e esvaziando se parecia com o barulho de uma bexiga gigante se enchendo, e o pulsar do meu sangue, agora parecia grandes correntes sendo arrastadas. O alto barulho dos meus órgãos se sincronizavam numa estranha sintonia, formando uma canção aterrorizante. Eu comecei a enxergar luzes coloridas em vários formatos, como se elas dançassem no ritmo que meus órgãos tocavam. Eu já não conseguia saber se estava viva. Eu morri na queda? Estou desmaiada? Isso não pode ser real.
Enquanto aqueles barulhos soavam como uma música, eu começava a me movimentar no ritmo da canção e cantarolava algo sem sentido. Algo dentro de mim dizia pra continuar a fazer aquilo, mas algo também dizia que era insanidade. Era a minha mente tentando achar algum significado para aquela sensação bizarra. Eu cantarolava cada vez mais alto e me movimentava cada vez mais.
Uma das figuras coloridas veio até mim e estendeu-me suas mãos. Era algo indefinido, sem rosto, apenas uma forma emanando luz. Eu dancei em volta daquilo sem tocá-la e as outras figuras se aproximavam cada vez mais. A canção fora ficando mais rápida e mais alta, e eu dançava freneticamente conforme a música, até que meus pés se entrelaçaram e eu cai debruçada no chão. As figuras foram ficando borradas e sem cor. Foi então que eu lembrei do que Corey me dissera. Para voltar apenas não exista. Minha mente estava alucinando para tentar compreender o que estava se passando, pois naquele escuridão e silêncio absoluto não havia como distinguir o que era vida ou morte, o que era real e o que era apenas fruto da minha imaginação. Eu me belisquei e não senti nada. Estava confirmado, minha mente entrara num estado de alucinação profunda. Eu estava sonhando acordada. As figuras desapareceram por completo e novamente eu só enxergava a escuridão e ouvia apenas meu corpo trabalhando. 
Para sair é preciso que eu não exista. Me deitei em posição fetal, coloquei minhas mãos sobre meus ouvidos, para tentar não ouvir o barulho descontrolado que meu corpo fazia, e fiquei ali inerte por longos minutos. As alucinações voltaram, mas eu controlei. Minha mente precisava saber que não era preciso de ação. Eu não queria estar viva. Volta e meia eu era surpreendida numa realidade minha, onde eu estava deitada em casa normalmente como se nada tivesse acontecido ou então eu estava sentada num campo olhando o céu. Mas então eu acordava e voltava a tentar desligar minha mente. Foram várias tentativas frustradas, sempre eu acabava caindo no sono ou imaginando algum cenário. Quando acordei de uma dessas imaginações, eu percebi que nessas realidades que minha mente criara, eu pude tocar, sentir e ouvir as coisas ao meu redor, mesmo estando apenas deitada em algum lugar aleatório no meio do nada. A realidade sou eu quem crio. A percepção do meu mundo é a minha mente que faz. Então me dei conta do real significado do que Corey me dissera. Imediatamente, sem hesitar, eu me imaginei no último lugar onde eu conseguia enxergar e ouvir algo. Me concentrei bastante... e lá estava eu. Meus olhos vidrados no brilho do poço. Eu pisquei abruptamente e girei para trás.
Como se eu tivesse acordado de um sonho, toda minha visão periférica voltara, e o poço agora era apenas um buraco a um metro e cinquenta de mim. Corey me soltou enquanto verificava se eu estava bem. Eu me afastei e sai para o lado de fora das faixas que interditavam o poço. Enquanto eu deixava a escola, eu olhei para trás me lembrando daquela experiência estranha. Naquela época eu não havia entendido o porquê daquele lugar ser chamado de A Porta, pois eu procurei esquecer completamente o que acontecera aquele dia. Mas hoje eu entendo completamente o significado.
Desde aquele dia minha vida nunca mais fora a mesma, aquele poço era realmente uma porta. Uma porta na qual eu entrei e jamais sairei. A porta para outras realidades. De tempos em tempos eu adormeço e acabo acordando neste lugar. No lugar onde nada além de mim existe. O lugar onde eu descobri que não há uma realidade absoluta, mas sim, o que eu acreditar ser real será a minha realidade.


FIM.




Nota do autor: FALHA NA LEITURA é fruto de um devaneio de um ser humano comum.
Aqui você verá pequenas histórias de suspense - ou qualquer outra coisa que me vier a mente -, com continuações. A continuação da história estará disponível em dois dias no máximo, e se houver mais alguma continuação é assim por diante.
Comenta por favor. A sua opinião é o que nos fará continuar ou não.

sábado, 10 de janeiro de 2015

A PORTA - PARTE I

A Porta. Era como chamavam uma pequena abertura que havia atrás do prédio de uma antiga escola, a três quadras de minha casa. Aparentemente era só uma pequena abertura no chão com no máximo trinta centímetros de diâmetro e que ficava bem no meio do pátio. Qualquer um poderia facilmente pensar que aquela abertura era apenas um poço ou algo do tipo — o que provavelmente já deve ter sido —, mas aquela abertura tinha também algo muito fora do comum.
Eu não acreditava quando me falavam das histórias do poço, afinal, eu tinha meus quinze anos e era uma rebelde sem causa, desconfiava de tudo e tinha sempre questões a levantar sobre qualquer assunto. E aquele poço era o que mais me divertia no quesito discussão. Eu era contra qualquer hipótese de que havia algo sobrenatural, fora das leis que regem o universo, mas meus amigos eram obcecados por esses assuntos e defendiam com unhas e dentes de que havia sim algo fora do comum acontecendo ali perto de nós. Eu achava graça como eles discutiam com alguém ignorante no assunto, que no caso era eu, pois eu nunca havia tido contato com aquele poço ainda.
Certo dia um amigo meu, o Corey, me chamou para ir dar uma olhada no poço. Eu aceitei de imediato. Confesso que fiquei curiosa para saber o que acontecia de tão incomum naquele lugar. Queria passar pelo que quer que houvesse lá e achar uma boa explicação, aí eu poderia enfim ganhar a discussão com meus amigos e zombar deles eternamente. Numa madrugada Corey e eu fomos para a escola. Era fácil de entrar, os muros eram baixos e não havia ninguém que cuidava do local. Caminhamos alguns metros e localizamos o poço bem no centro do pátio. Era apenas um buraco comum que estava com algumas faixas ao seu redor, interditando um raio de uns três metros além do buraco. Que exagero. Pensei, me divertindo.
Corey me advertiu para não chegar muito perto, pois era perigoso. Ele contara que havia estado ali com outras pessoas e viu o que acontecia com as pessoas que passavam das faixas de interdição. Ele contou umas histórias assustadoras, mas eu não caí naquilo. 
Eu queria chegar perto, olhar para dentro daquilo, descobrir o que tinha de tão especial naquele buraco idiota. 
Deixei Corey falando sozinho e fui me aproximando. Percebi que Corey vinha me seguindo. Passei por baixo da faixa e Corey estava sempre junto a mim. Tinha certeza que a qualquer hora ele iria dar um grito para tentar me assustar. Pouco mais de dois metros de distância do poço, percebi algo estranho. Minha visão periférica, que antes enxergava a escola agora não enxergava nada. Apenas minha visão central funcionava, e estava focada naquele poço. Pensei que deveria ter sido alguma luz na rua que tinha se apagado, então com pequenos passos eu me aproximava cada vez mais. Estava com medo. Medo de que o chão embaixo de mim cedesse. Um metro e setenta de distância. Um metro e sessenta... A quase um metro e cinquenta do poço foi quando eu percebi algo notavelmente estranho. Eu estava num cenário totalmente diferente ao da escola. Podia sentir o vento que soprava ao redor da escola, mas eu não enxergava nada.
Eu estava no meio do nada. Foi quando percebi que o poço começou a brilhar. Eu me aproximei mais alguns centímetros. "Martha" Ouvi Corey me chamando, mas eu não consegui vê-lo. Girei 360° sob meus pés, mas só vi escuridão. "Você está dentro não é?" Perguntou Corey. "Eu estou te segurando" ele disse. Mas eu não sentia nada em mim. "Fica tranquila, apenas volte" ele tornou a dizer. Voltar de onde se eu estou ao seu lado?  Pensei comigo mesma. Como eu volto? Eu tentei falar, mas minha voz não saiu. "Para você voltar, apenas não exista".  
Quando Corey disse aquilo eu não soube o que pensar. Apenas não exista. Pela primeira vez me senti desconfortável, mas não quis admitir para mim mesma. Tornei a girar, mas tudo o que eu vi foi escuridão. Dei um pequeno passo para frente, mas ouvi um sussurro. Era Corey, sua voz não estava tão clara quanto antes. A luz ficou mais intensa, me atraia, me chamava para perto dela. Mas algo me dizia para não seguir naquela direção. Tentei dar um passo pra trás, mas foi quando eu fui surpreendida. 

FALHA NA LEITURA
Continuação. Em. Breve. 



Nota do autor: FALHA NA LEITURA é fruto de um devaneio de um ser humano comum.
Aqui você verá pequenas histórias de suspense - ou qualquer outra coisa que me vier a mente -, com continuações. A continuação da história estará disponível em dois dias no máximo, e se houver mais alguma continuação é assim por diante.
Comenta por favor. A sua opinião é o que nos fará continuar ou não.

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